Artigos

A recuperação pós pandemia

A pandemia COVID-19 veio mudar radicalmente a forma como vivemos e nos relacionamos uns com os outros.

Em março 2020 surgiram novas regras e imposições, que mudam praticamente a cada 15 dias e que nos obrigam a uma adaptação constante. Embora as regras quanto ao confinamento variem, o distanciamento social, as máscaras e o álcool gel já fazem parte da nossa rotina.

Estes novos comportamentos são necessários para travar a crise de saúde pública mundial, mas trouxeram consigo, muitos outras crises, nomeadamente económicas, sociais e educativas, que também não podem ser menosprezadas.

Nestes 2 anos letivos, as escolas não funcionaram com a normalidade do costume, tendo alternando entre o ensino presencial e à distância. Existiram muitos constrangimentos que hoje conseguimos com algum rigor aferir.

Apesar de todo o esforço realizado pelas comunidades educativas para acautelar as desigualdades, elas agravaram-se e têm tido um impacto grande na vida das crianças e dos jovens. Assim, as desigualdades nas aprendizagens aumentaram, prejudicando os alunos mais vulneráveis. O bem-estar, a saúde mental e o desenvolvimento socioemocional ficaram também bastante comprometidos.

Nas últimas semanas, este tem sido um dos assuntos mais discutidos e são já vários os estudos realizados, nacionais (NOVA SBE, Universidade Católica, IAVE, entre outros) e internacionais (OCDE, UNICEF), que destacam o agravamento destas assimetrias e que propõem soluções.

A maior preocupação é a recuperação das aprendizagens dos alunos. O Ministério da Educação constituiu um grupo de trabalho para definir estratégias para que este problema possa ser ultrapassado. O período das férias de verão pode ser uma oportunidade para estimular e apoiar aqueles que mais dificuldades tiveram, nomeadamente a Português e Matemática, como indica o estudo realizado pelo IAVE (2021). No entanto, as opiniões dividem-se, pois, realizar academias de verão, com a duração de 4 semanas, focados nas aprendizagens podem aumentar o cansaço, a desmotivação e podem promover um maior afastamento e desinteresse pela escola

Na nossa opinião, este é um caminho muito redutor, é crucial combater também, o mau estar, ansiedade, irritabilidade, isolamento e sedentarismo dos alunos e recuperar o gosto e confiança que tinham pela escola.

Acreditamos no potencial de academias de verão com 10 dias úteis de duração e que deverão ser dirigidas para os alunos que sofreram um maior impacto ao nível do seu desenvolvimento durante a pandemia, não só ao nível das aprendizagens, mas também a nível socioemocional.

Este deve ser um momento que proporcione acima de tudo a interação social e que lhes permita explorar diferentes competências socioemocionais e criativas. Durante 2 semanas, os alunos terão oportunidade de trabalhar diversos temas do seu interesse, com base na metodologia de trabalho de projeto; realizar atividades artísticas e desportivas e ter alguns momentos de tutoria, nas disciplinas a que tenham mais dificuldade.

Por último, parece-nos fundamental que estes programas permitam mapear as dificuldades dos alunos e sejam utilizados para que as escolas definam novas estratégias e reequacionem as suas práticas pedagógicas para que o ano letivo 21/22 possa ser um ano de mudança, com menos desigualdades e mais sucesso educativo.