Liderar as escolas em tempos de pandemia
Liderar é, por si só, uma tarefa muito exigente que requer a “dose certa” de carisma, confiança, vontade e capacidade de motivar, inspirar, delegar e saber ouvir os restantes elementos da equipa, de forma a levar a organização sempre pelo melhor caminho. No entanto, liderar uma escola acarreta um maior número de desafios e, fazê-lo em tempos de pandemia, obrigou a uma maior capacidade de adaptação e reinvenção.
Não podemos, por isso, deixar de reconhecer o papel importante que as lideranças escolares desempenham, diariamente, e que face a este contexto particularmente difícil, tiveram que se superar ainda mais para desempenhar tarefas para as quais ninguém estava preparado.
As escolas são organizações muito complexas e que implicam a gestão de diferentes estabelecimentos escolares e a coordenação de muitas e diferentes pessoas. Têm que dar resposta a um perfil de alunos cada vez mais desafiante e a famílias muito exigentes.
Dos/as diretores/as escolares espera-se que sejam capazes de mobilizar as equipas e de fazer com que cada um dos seus profissionais se sinta envolvido e incluído no Projeto Educativo da escola e na missão conjunta de promover a mudança e o sucesso educativo dos alunos. Para além disso, trabalhar em educação requer uma capacidade de resposta rápida e consistente, adequada aos tempos, momentos e contextos em que se vive.
Por todas estas razões, e, contrariamente ao que seria expectável, os/as líderes escolares não podem preocupar-se, apenas, com a inovação das práticas pedagógicas e com as aprendizagens dos alunos. Os/as diretores/as têm, também, que gerir recursos humanos; têm que gerir currículos com autonomia em articulação com a tutela; têm que conhecer, aprofundadamente, a legislação; mediar conflitos, interesses e poderes; envolver a comunidade educativa; e encontrar respostas sociais adequadas aos alunos, às famílias e ao território em que estão inseridas.
Com esta multiplicidade de tarefas e funções, um/uma líder escolar tem que ser, necessariamente, uma pessoa que reúne um conjunto muito específico de conhecimentos e competências: visão e pensamento, motivação e empenho, trabalhar em rede e em equipa, conhecer o sistema de ensino, capacidade de comunicação e abertura para resolver problemas (Comissão Europeia, 2012).
Apesar do perfil ser complexo e a função tão exigente, estes/estas líderes existem e, diariamente, procuraram gerir as escolas, liderando e inspirando, mas expondo sempre o seu lado humano, a vocação e priorizando os seus alunos. São os/as diretores/as das diferentes escolas do nosso país que têm procurado encontrar um equilíbrio e uma “normalidade” que permita aos professores realizar o seu trabalho, o melhor possível, apoiar as famílias e minimizar o impacto e as desigualdades criadas por esta pandemia.
Há pouco mais de um ano, as escolas encerraram pela primeira vez, sem “data de regresso”. Em apenas duas semanas, as escolas tiveram que identificar os recursos e as condições tecnológicas existentes para alunos e professores e, com base nisso, desenhar um plano para um ensino remoto de emergência que definisse as regras para o funcionamento das aulas a distância. Em muitas escolas, não só não existiam recursos, como os professores e os alunos não tinham o hábito de trabalhar com as tecnologias, o que exigiu uma capacitação rápida. Para além disso, foi necessário encontrar formas de não abandonar nenhum aluno e de manter um sentimento de proximidade com toda a comunidade.
Superadas, com sucesso, todas estas dificuldades, foi solicitado às direções que planeassem e organizassem as escolas para receberem a sua comunidade escolar, em segurança, no início do ano letivo de 2020/2021. Para isso, prepararam três planos (ensino presencial, ensino misto e ensino a distância) e asseguraram condições para minimizar as desigualdades sociais e de aprendizagem que advinham do ano letivo anterior.
Para que tudo se pudesse funcionar com normalidade, às escolas exigiu-se que estivessem em contacto diário e direto com as autoridades de saúde e com as famílias; que assumissem novas funções; que assegurassem o cumprimento de regras muito rigorosas que permitissem “controlar” a propagação da doença dentro da sua comunidade; e que garantissem que os alunos continuariam a aprender, presencialmente ou a distância.
Não obstante todo este esforço, em janeiro deste ano, as escolas foram novamente obrigadas a “fechar as portas”. O processo foi muito menos moroso porque todas as equipas pedagógicas estavam já preparadas para o fazer e existiam mais recursos tecnológicos (ainda que não os suficientes).
Estaremos a chegar a todos os alunos? Que marcas é que isto deixará nas crianças e nos jovens? Que impacto está a ter nos profissionais das escolas?
O que já sabemos é que existirão impactos, pois seria impossível não existirem depois de uma pandemia desta magnitude. Também sabemos que as nossas escolas tiveram sempre ON e mostraram uma grande capacidade de resiliência, criatividade e de resolução de problemas.
Sairemos desta pandemia, com a certeza, de que as escolas estão vivas e preparadas para os desafios das nossas sociedades contemporâneas.